Diário de viagem #1: um pouco do que o mundo tem a oferecer

Na série de posts Diário de Viagem relatamos nossas experiências durante o mochilão. Nessa publicação inaugural, falamos dos 17 primeiros dias de viagem.

Sexta-feira, dia 04 de novembro, completamos um mês de estrada desde que levantamos voo no Rio de Janeiro rumo à uma vida nova. Saímos com muitas incertezas e inseguranças, mas elas foram caindo pouco a pouco. A medida que vivíamos experiências incríveis e nos adaptávamos à nova rotina, percebíamos que não havia nenhum bicho de sete cabeças: viver como nômade digital é possível.

Nessa nova série de posts Diário de Viagem que iniciamos, o plano é compartilhar um pouco das experiências que vivemos em nosso dia-a-dia. Então, senta que lá vem história.

Antes de viajar

A ideia de mudar de vida surgiu meses antes, no início desse ano. Começou como um mero devaneio de nossas criativas mentes, mas que logo ganhou força para se tornar um plano concreto após incentivos do meu pai (através de quem conheci o estilo de vida nômade digital) e do meu irmão. Minha mãe e a família da Ju foram mais conservadoras na recepção da ideia, mas nunca deixaram de nos apoiar e dar forças.

Mas a ideia agora não é falar da decisão. Sobre ela já fizemos o post Agora é à vera — por que decidimos fazer um mochilão pelo mundo e um vídeo que você confere abaixo:

Muito menos falarei sobre a preparação, assunto que trataremos em outra oportunidade. Inclusive, fica aqui a dica para assinar nossa newsletter no formulário abaixo, pois assim você receberá nossas atualizações confortavelmente em seu e-mail sem precisar correr atrás delas 😉

Fique por dentro

Assine nossa newsletter e receba gratuitamente uma planilha totalmente automatizada para planejar a sua próxima viagem:

Já enrolei demais. Vamos lá!

Como é normal em nossas vidas, compramos a passagem de última hora, a 6 dias da viagem. Foi de supetão mesmo, ao perceber que poderíamos perder uma pechincha de passagem em milhas para Pelotas. Curiosamente, nesse momento sequer sabíamos em qual cidade seria nosso ponto de partida.

Saindo de casa...

Saindo de casa…

Foram 6 dias muito intensos. Compramos a passagem no aeroporto nos despedindo antecipadamente de meus pais, que partiam para uma viagem para curtir, enfim, a vida deles. Além disso, Juju já estava vagabundeando após pedir demissão — ou seja, sobrava tempo para ficar ansiosa — e eu fiz a despedida do meu emprego logo no dia seguinte.

Depois foi um final e um início de semana aproveitando os últimos momentos com os familiares. E, por fim, separando o que levaríamos e o que deixaríamos para trás, arrumando nossas mochila — meio sem saber como, é verdade.

A cada passo que dávamos adiante, um filme passava em nossas cabeças. A cada passo que dávamos adiante, o dia seguinte se tornava cada vez mais imprevisível.

E assim seguimos até, enfim, chegarmos ao aeroporto onde passamos a noite aguardando o voo que sairia na manhã seguinte.

Pelotas: a primeira experiência de uma nova vida cheia de novas experiências

Foram três aviões diferentes e duas conexões com paradas em Campinas e Porto Alegre até chegarmos em Pelotas. Pode ter sido cansativo, mas pelo menos nos esbaldamos nos lanchinhos da companhia aérea 😂.

Não tínhamos planos de turistar em Pelotas, pois queríamos atravessar logo a fronteira. Então, estando de passagem por somente um dia, pensamos que seria uma excelente oportunidade para testar o Couchsurfing.

O Couchsurfing é uma rede social de hospitalidade que une viajantes que buscam hospedagem a anfitriões dispostos a recebê-los. Lá, conhecemos o perfil de um casal que, ao conhecer nossa história, não hesitou em nos receber.

Chegamos com tudo já devidamente combinado, e fizemos contato com eles a fim de obter as instruções para chegar na casa. Era tudo muito novo. Estávamos em uma cidade completamente desconhecida, com mochilas pesadas nas costas, indo para a casa de completos estranhos. Seguimos incertos, quiçá inseguros, mas com o peito estufado e a mente aberta.

Marcos, eu, Ju e Márcio

Nos despedindo de Pelotas

Ao chegarmos lá, mais uma vez, o medo e a insegurança caíram e deram lugar a uma experiência única e enriquecedora. Fomos muito bem recebidos pelos anfitriões Márcio, Marcos e seus pets, nos sentimos em casa e dormimos muito bem. No pouco tempo que tivemos livre, pudemos conhecer um pouco mais sobre suas vidas, suas viagens — eles amam Paris! — e seus trabalhos — um tem uma casa noturna e o outro é professor de francês —, além de suas atuações em ONGs e ativismo LGBT.

No dia seguinte, partimos de Pelotas enriquecidos pela novidade que foi o Couchsurfing e mais prontos do que nunca para encarar o que o mundo tinha a nos oferecer.

Chuí e fronteira com o Uruguai

Finalmente chegamos ao Chuí para uma passagem ainda mais rápida que em Pelotas. Logo que chegamos, tentamos nos localizar e buscar uma agência do Correios, um banco para sacar dinheiro e uma agência de câmbio para trocá-lo.

Com GPS e internet móvel tudo fica mais fácil de encontrar e logo partimos para o Correios. Mas, peraí, pra que diabos passar lá no segundo dia de viagem? Então, conhecem aquelas pessoas que têm uma memória impecável? A Ju é o contrário disso 😂 ela conseguiu a proeza de trazer conosco o documento do carro que acabara de vender hahahaha

Documento devidamente despachado, fomos procurar um Itaú para sacar dinheiro e… não achamos Itaú na cidade! Tudo bem, tem uma agência do Bradesco logo ali e eu tenho conta lá. Bota o cartão no caixa eletrônico e… ele só tem função crédito e o de débito tá vencido. Que coisa, não?

Carimbos no passaporte

Carimbos no passaporte

Quando parecia que passaríamos o primeiro perrengue, sem um tostão no bolso, Deus iluminou nossas vidas e me fez lembrar que havia um cartão de uma outra conta na minha carteira. Uma poupança que eu havia criado para o time de handebol (rumo ao título, pessoal 💪).

Mesmo banco, mesma titularidade, sem taxas pra transferir e cai na hora. Pá-pum. Sacamos, fizemos câmbio e compramos algumas comidas. Sabendo que não teríamos condições de comprar nada nos freeshops, pegamos um ônibus e partimos para Punta del Diablo, nosso primeiro destino internacional.

Antes disso, a fronteira: entramos no ônibus e logo depois paramos na imigração. Alguns minutos eternizados em forma de carimbo em nossos passaportes, meio que oficializando tudo que vivemos nesses dois dias de estrada.

Gastamos pouquíssimo para viajar do Rio a Punta del Diablo, no Uruguai, sabia? Confira mais detalhes na postagem Como chegar no Uruguai — uma opção barata.

Punta del Diablo: paz e natureza

Juju nas ruas de Punta del Diablo

Juju nas ruas de Punta del Diablo

Quando chegamos em Punta del Diablo foi paixão à primeira vista. É uma cidade bem simples, de ruas de terra e muitas cabanas, mas com um visual exuberante de frente para o mar. É um charme todo diferente que conquista quem curte paz. Bom, pelo menos na época que passamos por lá, pois dizem que no verão é o fervo rs

Lá nos hospedamos num hostel muito acolhedor e fizemos mais algumas de nossas primeiras amizades na viagem. Foi lá que conhecemos o Thiago, um brasileiro formado em engenharia que largou tudo e já está viajando há mais de quatro anos (!). Ele nos deu dicas sensacionais sobre a região e nos passou um pouco de sua experiência. Além dele também também conhecemos duas Anas, uma brasileira e uma uruguaia, além de outras pessoas muito simpáticas, que nos deram as melhores dicas para a sequência da nossa viagem.

Além de amizades humanas, foi lá que também fizemos nossa primeira amizade com um serumaninho 🐶, coisa que tem se tornado frequente em nossa viagem. Não sabemos o que temos, mas os cãezinhos de rua simplesmente nos amam rs.

Nosso amiguinho vindo nos conhecer 😍

Nosso amiguinho vindo nos conhecer 😍

Foi num dia que decidimos conhecer o Parque Nacional de Santa Teresa. Indicados pelo Thiago, botamos uma mochila nas costas e começamos nossa caminhada pela praia rumo ao parque. Logo que chegamos na praia, um amiguinho apareceu e resolveu nos fazer companhia. E assim foi até o final, durante os quase 10 km que caminhamos naquele dia.

Infelizmente, acabamos não conhecendo o parque, pois o clima nos traiu e começou a chover. Logo corremos para a estrada (com o cãozinho sempre nos acompanhando), tomamos coragem e, de peito aberto, começamos a pedir nossa primeira carona.

Tentamos, tentamos e tentamos, mas não dava certo. Ninguém parava para nós. Até que um grupo de argentinos aparece, pelos quais havíamos passado durante nossa caminhada na praia, e na primeira tentativa conseguem uma carona. Era o fim pra nós, ficamos com as caras no chão. O que eles tinham que nós não tínhamos?!, nos perguntávamos.

Curiosamente, a sorte deles também foi a nossa. As senhoras que pararam para eles andaram alguns metros e trataram de parar para nós também. E assim conseguimos nossa primeira carona na viagem (uhu!), compartilhando a caçamba de uma caminhonete com um trio de argentinos no Uruguai.

O cachoríneo, infelizmente, não subiu e ficou pra trás. Não tivemos nem tempo de nos despedir… Até hoje temos que lidar com o remorso de tê-lo deixado lá sozinho na estrada 😢.

Chegando em Cabo Polonio

Chegando em Cabo Polonio

Enfim, sãos, salvos e de volta ao hostel, o Thiago começou a insistir para que fôssemos a Cabo Polonio. Definitivamente, não estava nos nossos planos passar por lá (sequer a conhecíamos), mas ele insistiu tanto, falou tão bem do lugar e até arrumou uma carona pra gente, que não tinha mais desculpas. Fomos apresentados aos brasileiros que nos dariam carona e partimos para conhecer Cabo Polonio minutos depois.

Olha, que lugar fantástico. É indescritível a beleza do local, mas vou tentar. Uma vila minúscula cercada pelo mar, por dunas, muito verde e vida selvagem. Foi lá que avistamos pela primeira vez os lobos marinhos que se tornariam figurinha carimbada de nosso mochilão.

A loberia de Cabo Polonio

A loberia de Cabo Polonio

Com o intuito de voltar para o hostel, começamo a aguardar a chegada do ônibus que nos levaria. A hora marcada chegou, passou 10 minutos, 20, 30 e nada. Então, com medo de escurecer e ficar na pista, depois de duas caronas e cheios de confiança, resolvemos novamente ir para a estrada tentar mais uma.

Dessa vez com uma placa mal feita indicando o destino, ficamos lá na saída do parque gesticulando para cada carro que passava até que uma brasileira com seu namorado uruguaio resolveram nos ajudar.

Tempos depois descobrimos que nosso relógio estava atrasado e, por isso, o ônibus não passou na hora marcada 😂.

Foram dias fantásticos, de muita experiência nova e que nos encheram de energia. São duas cidades que ficarão para sempre em nossas memórias, mas a viagem continua e partimos para nosso próximo destino.

Se interessou por Punta del Diablo e/ou Cabo Polonio? Veja nossas melhores dicas nas postagens Punta del Diablo — a nossa primeira agradável surpresa no Uruguai e Cabo Polônio — Um paraíso escondido no Uruguai.

Punta del Este: sofisticação, brasileiros e aprendizado

Compramos a passagem para Punta del Este somente na hora de embarcar no ônibus, o que nos levou a a fazer a viagem sem local marcado. A todo momento entrava um novo passageiro com reserva antecipada, exigindo seu assento reservado, nos impedindo, assim, de seguir viagem sentados. Fomos em pé durante todo o caminho e, pra piorar, o wi-fi do ônibus não funcionou. Ou seja, três horas de ônibus em pé e sem internet. Pesado rs.

Apesar do cansaço e do cair da noite, a cidade logo nos impressionou por sua sofisticação. Muito diferente das simples cidades que havíamos visitado até então, Punta del Este tem toda uma pinta de cidade europeia. Bom… Pelo menos na nossa imaginação, já que nunca fomos à Europa 😂.

Para nos hospedarmos, fizemos uma reserva no The Trip Hostel, que fica bem próximo da rodoviária e da península. Chegamos rápido lá, mas já era noite, o mercado estava fechado e nossas barrigas roncavam de fome. Voltamos às ruas para buscar comida até que, enfim, demos de cara com um shopping. Foi mais forte do que nós. Já fazia muito tempo que não comíamos um fast food e lá no Uruguai tem devolução de IVA, né? Não deu outra: comemos no McDonald’s 🍔🍟 rs.

Los Dedos

Los Dedos

Satisfeitos e de pança cheia, descansamos para, no dia seguinte, curtir os principais pontos turísticos da cidade caminhando por suas calmas e lindas praias, todas bem vazias nessa época do ano. Foram algumas horas para contornar tranquilamente toda a península. Punta del Este é, de fato, uma bela cidade.

Durante nossa estadia no hostel, tivemos o prazer de conhecer vários brasileiros. Alguns deles estavam a trabalho, eram do blog Punta para Brasileiros e estavam prestando algum serviço de marketing para o hostel (além de terem feito várias comidas bem cheirosas que nos encheram de inveja, visto que só comíamos miojo até então hahahaha).

Outros estavam somente de passagem. Como um camarada que me convidou pra compartilhar uma cerva com ele, matando parcialmente as saudades que tenho de sentar num bar para resenhar com meus amigos (ah, os pequenos prazeres da vida 🍺), e um simpático grupo mais velho que simplesmente estava viajando de bicicleta! Assim como nós. Só que de bicicleta! Fantástico, cara! Aliás, sabiam que chegamos a cogitar isso em algum momento? Graças a Deus tivemos semancol pra não levar essa ideia adiante 😂 mas, quem sabe um dia após uns treinos?

Nós e o Gonzalo

Nós e o Gonzalo

Muitas histórias contadas, experiências trocadas e álcool ingerido naquela noite. Conhecer outras culturas é ótimo, mas também é sempre bom encontrar brasileiros por aí para se sentir um pouco em casa de vez em quando.

Lá no hostel também tivemos nossa primeira experiência em duas situações com o blog. A primeira foi negociar pessoalmente, pois até então vínhamos resolvendo tudo pela internet. Foi bem divertido, levamos, talvez, algumas horas tomando coragem e, com a Ju se mijando de vergonha, nos aproximamos do responsável, Gonzalo, e propusemos uma parceria falando um péssimo portunhol. Ele estava bem aberto ao diálogo e logo topou fazer negócio. Pode parecer bobeira, mas foi ótimo para nós, um aprendizado e tanto.

A segunda primeira experiência lá foi gravar nosso primeiro vídeo “em público”, que você confere aí embaixo. Gravamos numa área comum do hostel e, ainda que não estivesse com movimento naquele momento, certamente os funcionários e outros hóspedes nos ouviram gravando, envergonhados, cometendo inúmeros erros e fazendo vários cortes. Foi bom também para superar o receio de gravar em público, ainda que eu acredite que não tenhamos superado tudo rs.

Por fim, foi de Punta del Este que partimos para Punta Ballena para conhecer a famosa Casapueblo, uma casa (mansão? Castelo?) em forma de obra de arte construída pelas próprias mãos do Vilaró. Foi ótimo conhecer sua arte e apreciar a bela vista da região, mas o dia encerrou com um susto quando, na hora de voltar, ninguém quis parar para nós na estrada. Já de noite e contando os quilômetros e as horas que levaríamos para voltar andando, tivemos a sorte de um ônibus velho parar para nós quando quase nos jogamos na frente dele 😂. No fim deu tudo certo e retornamos para Punta del Este já nos preparando para partir para Montevidéu.

Quer conferir nossas dicas sobre Punta del Este? Dá uma olhada no post Conhecendo a famosa e luxuosa Punta del Este.

Montevidéu: muita chuva, programa de domingo e parrilla

Finalmente chegamos à primeira metrópole de nossa viagem. Curiosamente, Montevidéu logo nos surpreendeu se mostrando, talvez, a metrópole mais calma que já conhecemos. Parece que calma, paz e tranquilidade são os adjetivos perfeitos para descrever nossa passagem pelo Uruguai. Afinal, o único grande susto que tivemos lá foi ao ver os preços dos itens no supermercado hahahaha é sério! 😶

Infelizmente, choveu muito durante nossa estadia na capital uruguaia, o que acabou limitando nossos passeios, nos deixando um pouco presos na casa da simpática Beatriz, que conhecemos no AirBnB. Pelo menos foi uma excelente oportunidade para colocar o trabalho em dia, não é mesmo? 😉

A famosa Rambla uruguaia num domingo ensolarado

A famosa Rambla uruguaia num domingo ensolarado

Mesmo assim, conseguimos caminhar pela famosa Rambla, a enorme avenida que segue as margens do Rio da Prata e lembra um pouco o Aterro do Flamengo, num belo e raro dia de sol. Interessante como estava lotada de uruguaios sentados à grama tomando mate com seus familiares (ô povo viciado em mate esses uruguaios e argentinos) enquanto os filhos jogavam bola. Um gostoso programa de domingo na bela orla da tranquila cidade.

Além do passeio na Rambla, também conseguimos conhecer a tão — ou mais — famosa Ciudad Vieja, centro histórico de Montevidéu, e o Mercado do Porto, onde comemos uma típica e deliciosa parrillada uruguaia e, obviamente, estouramos nosso orçamento 💸 (mas valeu cada centavo rs).

Eu li orçamento? No post 1º mês de estrada — quanto custa viver viajando esmiuçamos o nosso e revelamos algumas estatísticas que achamos interessante.

É isso, pessoal! Esses foram os primeiros 17 dias de nossa viagem. O plano era tratar o primeiro mês inteiro de viagem aqui, mas ela já ficou um pouco longa, né. Então preferi parar por aqui em Montevidéu mesmo, mas em breve escrevo sobre as nossas experiências no restante do mochilão.

Se tiveram paciência para ler tudo, curtiram a postagem e quiserem saber mais, não deixem de dar seu feedback comentando, curtindo e/ou compartilhando 😉