Os 12 maiores perrengues do nosso primeiro ano na estrada

Depois de 1 ano viajando pela América do Sul, resolvemos compartilhar os nossos 12 maiores perrengues da viagem — e não foram poucos.

Toda viagem que se preze tem que ter seus perrengues, não é mesmo? Agora imagina uma vida de viajantes? O que não faltou nesses nossos 12 meses foram perrengues e que hoje se transformaram, literalmente, em história para contar.

Antes de qualquer coisa, se você caiu meio que de paraquedas por aqui, saiba que tem 1 ano que estamos viajando pela América do Sul. Para celebrar essa data tão importante, resolvemos criar diversas listas (e vídeos) com 12 acontecimentos. E a primeira lista não poderia ser diferente disso:

perrengues da viagem

Nosso requintado almoço em Cabo Polônio. Cozinhamos nosso amado miojo com uma linda vista

12 maiores perrengues da nossa viagem

1. Sem dinheiro na primeira semana de viagem

Primeira semana de outubro, iniciamos a nossa viagem. A ideia era tomar um voo até Pelotas e depois chegar na fronteira com o Uruguai. E assim fizemos.

Só não tínhamos em mente que a cidade de Chuí fosse tão pequena, a ponto de não ter um caixa eletrônico além dos dois únicos bancos: Banco do Brasil e Bradesco.

O meu era itaú e era onde estava o dinheiro — sou a mulher do dinheiro, desculpa. O Yu até tinha o cartão do Bradesco, mas eram dois cartões diferentes: um para crédito e o outro para débito. Mas — sempre tem um mas, não? — descobrimos que o seu cartão de débito estava vencido dias antes de sair para começar a viagem.

Por sorte, ele tinha um cartão poupança do Bradesco — sim, ele tinha três cartões diferentes de um mesmo banco. Com isso, transferimos o dinheiro da conta corrente para a poupança. Tudo certo? Não, o Yu achava que lembrava da senha, mas na verdade não.

Pode falar, a gente gosta de dar sorte para o azar.

Na terceira tentativa, finalmente o Yu acertou! Obrigada, sem or! Sacamos o dinheiro e trocamos por pesos uruguaios.

2. Viajamos com o recibo de venda do carro assinado

Quem já viu o nosso primeiro vídeo, sabe que o dinheiro que temos de segurança provém do carro que vendemos.

Como tudo na nossa vida, deixamos para resolver isso nos acréscimos do segundo tempo. Apesar de ter encarregado meu pai para fazer a venda, o documento estava no meu nome. O meu único trabalho seria assinar o documento e reconhecer a firma.

Como eu tinha firma aberta com o cartório que atendia o banco onde eu trabalhava, levei o recibo de venda do carro para reconhecer. E assim eu fiz.

O único problema foi que eu esqueci o recibo na minha carteira e sai para viajar. Lembrei quando já estava em Chuí, na fronteira com o Uruguai.

A única solução seria mandar pelo correio para minha casa. Mas como tu manda um recibo de venda do carro assinado pelo correio? Correndo todos os riscos de ser extraviado?

Era isso ou nada. Mandei! Foram as 3 semanas mais apreensivas da vida. Mas, graças ao meu bom Deus, chegou tudo perfeito.

perrengue

Nossa primeira tentativa de carona (conseguimos!)

3. Rodoviária sem papel higiênico em Punta Arenas (saíram cagados)

Para preservar a moral, não citaremos nome!

Após uma cansativa e um tanto longa viagem de Ushuaia até Punta Arenas, a uma pessoa segurou o máximo que podia a sua ida para o banheiro  — para não estragar a viagem dos demais. Chegando no ponto final, que no caso era a rodoviária de Punta Arenas, ela saiu correndo sem pensar e muito menos avaliar as condições.

A vontade de fazer o número 2 era tanta que ela só percebeu que não tinha papel higiênico depois que terminou o trabalho. Por sorte, sempre levamos papel em nossas mochilas. A única coisa ruim é que as mochilas estavam dentro da rodoviária e o banheiro era na parte de embarque e desembarque.

4. Barraca quase levantando voo e com vazamento de água.

Ainda em Punta Arenas, resolvemos por livre e espontânea pressão que iríamos acampar (as diárias estavam absurdas de caras). Finalmente colocaríamos a nossa tão resistente e adequada barraca para jogo.

Para que estejamos todos na mesma página, a nossa barraca foi comprada em um mercado para um campeonato universitário, onde teríamos que acampar dentro de uma quadra. Ou seja, a única função da barraca na época era delimitar e proteger o nosso território.

Uma vez estando em Punta Arenas, região conhecida por seus fortes ventos, a barraca teria alguns outros desafios.

No melhor estilo inexperiente, montamos a nossa casinha. Sem entender nada, percebemos que todos na área de camping riam da nossa cara. Até que em um determinado momento, o dono veio falar com a gente:

— Olha, essa barraca de vocês não vai durar muito tempo. Na parte da noite o vento aqui é bem forte. Em todos esses anos, já vi muitas barracas sendo destroçadas pelo vento. Ah, e torce para não chover.

Cagamos, óbvio. Até porque, não tínhamos uma outra opção. E na nossa cabeça a nossa barraca não tinha nada demais, só era em um formato de iglu e com espaço para 4 pessoas.

Eis que o não esperado momento chegou. Uma ventania colossal acompanhada de chuva. Nossa barraca dobrava ao meio, era assustador. E piorava quando pensávamos o que faríamos com as nossas coisas naquela chuva.

Como todo castigo para pobre é pouco. Começou entrar água pelas costuras. Um filme de terror.

No dia seguinte, saímos para comprar uma nova barraca. Por sorte, estávamos perto de uma Zona Franca aqui no Chile.

Ponto positivo disso tudo? Punta Arenas é a cidade que antecede Puerto Natales. Imagina a gente fazendo o Circuito O em Torres del Paine com a nossa antiga barraca?

carona torres del paine - perrengue de viagem

Nossa primeira tentativa de carona frustrada

5. Ju fazendo xixi nas calças e terminando a trilha de chinelo

Chegamos em um dos parques mais icônicos do Chile: Torres del Paine. Mesmo sem muito planejamento — e quem dirá preparo — decidimos que faríamos o Circuito O. Uma simples caminhada de 10 dias para percorrer mais de 120 km.

O primeiro dia de trilha levaria a gente do portão principal até o Acamapamento Seron. Apesar da bota surrada e de toda essa pinta de trilheiros que temos, poucas foram as vezes que enfrentamos longas caminhadas.

E tínhamos plena consciência de que Torres del Paine seria uma baita desafio.

Com aproximadamente 3h de caminhada, a Ju tropeçou, caiu de joelho no chão e, não satisfeita, começou a rir. Riu tanto, que não conseguiu segurar o xixi. Uma pequena observação aqui: quando eu falo que não conseguiu segurar o xixi, não estou dizendo que deixou sair aquele jatinho infeliz. Ela fez xixi de verdade, escorrendo pela perna abaixo.

Conclusão? Teve que completar as últimas 3h mijada.

Achando que não pudesse piorar, faltando mais ou menos 1h30 de caminhada, tivemos o nosso primeiro grande empecilho: atravessar um rio pelas pedras.

Você já ouviu falar que existem pessoas que atraem perrengue? Sim? Prazer, Juliana!

Foi atravessar o rio, pisou em falso em uma pedra, se desequilibrou, a mochila pesou e ela enfiou o pé com tudo na água. Ou seja, teve que terminar o trekking descalça, em um dos terrenos mais irregulares da vida.

Moral da história: nada é tão ruim que não possa piorar.

6. Rezamos pra não morrer atravessando o Paso Gardner

Falando em não poder piorar… chegou um dos momentos mais críticos da travessia. Passar pelo Paso Gardner. O ponto mais alto do parque.

Tudo bem que isso não era para ser um grande problema, se a gente tivesse uma roupa adequada.

Sim, fazia muito frio, apesar de ser dezembro. E a gente lá, com uma blusa térmica, um fleece e um casaco da reebok muito do fajuta. Nas mãos uma luva comprada no camelô. E para nos deixar ainda mais temerosos, descobrimos que uns dias atrás um menino morreu de hipotermia.

Sim, tínhamos muito para ficar preocupados. Seria cômico, senão fosse trágico.

Na noite que antecedia a travessia, fizemos nossas orações, pedindo que o tempo colaborasse um pouco. E graças a Deus colaborou.

Passamos todo o percurso perguntando um ao outro se estava tudo bem, se sentia alguma coisa — ou se não sentia mais nada rs.

Crianças, não repitam isso em casa!

7. Véspera de Natal sem lugar pra ficar e sem ceia até umas 20h;

É, parando para pensar, o nosso período na Patagônia Chilena não foi tão afortunado assim. Saímos de Punta Arenas e seguimos para Puerto Natales — o parque mais famoso do Chile nos esperava; e era recíproco.

Tínhamos planejado uma data para iniciar o circuito. Mas não sabíamos que era um período tão cheio no parque e que as reservas dos acampamentos precisavam ser feitas com um pouco mais de antecedência — a gente tinha apenas uns três dias.

Com isso, tivemos que adiar em praticamente 2 semanas. Consequência disso? Finalizamos os nossos 10 dias de caminhada no dia 24 de dezembro. Isso mesmo, véspera de natal.

Saíamos de Torres del Paine e chegamos em Puerto Natales novamente por volta das 15h da tarde do dia 24, sem lugar para ficar. Desde sempre, planejávamos — só na nossa cabeça, nunca executamos — passar o natal em um lugar legal e com uma internet boa, para conseguir fazer uma vídeo chamada com a nossa família. Afinal, seria o nosso primeiro natal afastados.

Mas, obviamente, deixamos para escolher o lugar quando voltássemos. De novo, dezembro é alta temporada em Puerto Natales.

Caminhamos, caminhamos, caminhamos. A chuva nos acompanhava em cada passo. Buscávamos pelo Airbnb e não alcançávamos resposta — o que já era esperado. Depois de muito tempo, o relógio já marcando às 20h, conseguimos uma casa — mas que não tinha internet. Nessa altura do campeonato, só queríamos um lugar onde dormir morto.

No final das contas, fizemos um fricassê com ramitas (porque não tinha batata palha), uma vídeo chamada usando a internet do celular e o dono da casa nos presenteou com uma cidra, um panetone e umas cervejas.

Por isso a gente diz, no final sempre dá certo.

perrengue natal torres del paine

Nossa simples, mas deliciosa, ceia de Natal improvisada

8. Carona pra El Calafate: sem saber qual a rua, a direção e andar pra cacete sem conseguir nada (uma van nos avisar que estamos do lado errado)

Depois de tantos perrengues nessa cidade, resolvemos sair. Como o nosso próximo destino era El Calafate e são cidades relativamente próximas, decidimos que a carona seria o nosso meio de transporte.

Em uma bela terça-feira, arrumamos todas as nossas coisas, colocamos a mochila nas costas e saímos. Caminhamos por longos minutos — com o peso da mochila nas costas, tudo parece demorar.

Finalmente chegamos em uma estrada. Até aqui tudo bem, você deve estar pensando. O que não sabíamos era a direção que deveríamos pegar carona. Na verdade, não sabíamos nem onde era o lugar que deveríamos estar.

Você pesquisou alguma informação antes de sair de casa? Não, nem a gente. Você tinha internet para pesquisar na hora? Também não.

Ficamos igual duas baratas tontas perguntando para os (poucos) carros que passavam e cada um dizia uma coisa. Por fim, conseguimos uma carona com um cara que disse que poderia nos deixar a 7km mais a frente e que ali seria melhor para pegar carona.

Aceitamos.

Começou a dificuldade outra vez. Tentávamos e tentávamos e o vácuo já era nosso amigo. Não era possível que ninguém estava indo naquela direção. E não estavam mesmo, nós que estávamos, mas na direção errada.

Depois de muito esperar, uma van passou e nos disse que estávamos pedindo carona na direção contrária. Isso foi o fim.

Desistimos.

Agora íamos contra o tempo. Sabíamos que o último ônibus para El Calafate era as 15h45 e já estávamos em cima da hora — e 7km mais distante.

Resumo da ópera, quando finalmente conseguimos a carona (que ainda parou no posto para abastecer), já era tarde demais. Vimos o ônibus passar do nosso lado.

Ou seja, perdemos um dia inteiro e tivemos que estender nossa estadia.

perrengue carona

Nossa segunda frustrada tentativa de pegar carona

9. Caganeira em Bariloche

Esse foi um perrengue de merda, literalmente. Bariloche é conhecido por ser um destino caro, e mesmo no verão isso não foi diferente. A nossa saída foi acampar.

Dá para contar no dedos os campings que oferecem uma internet de qualidade, até porque, via de regra, são muitas pessoas dividindo a mesma rede.

Com isso, fomos obrigados a ir quase todos os dias na sorveteria do centro em busca de uma internet decente. Só que pra usar a internet, precisávamos consumir. E qualquer amante de soverte conhece a sede danada que dá. Mas daí pagar pelo sorvete e pela água era muito.

Como já estávamos tendo gastos demais, tivemos a brilhante ideia de beber a água da torneira do banheiro.

Resultado disso? Uma caganeira sem tamanho. Ficávamos revesando o trono. Fato que durou por muitos dias e só conseguimos resolver com um Floratil.

Resumo da ópera.  O floratil na Argentina custa uns 110 reais. Ou seja, tudo que economizamos bebendo água do banheiro foi por ralo abaixo comprando o remédio.

10. Circuito Chico em Bariloche: pegamos o caminho errado e estouramos o horário para devolver a bicicleta;

Passamos um período um tanto quanto complicado em Bariloche. Sem dinheiro, acampando durante 1 mês, sem internet decente para fazer nossos trabalhos e com caganeira. Todos os passeios eram muito caros, fizemos o que deu para fazer por conta própria.

Já estávamos nos últimos dias na cidade quando decidimos alugar um bicicleta para fazer o conhecido Circuito Chico. Saímos de casa com toda disposição do mundo. Esperamos por 1h e nada de passar o ônibus que nos deixaria no início do circuito — que também é o lugar para alugar a bici.

Descobrimos que estavam em greve.

Tentamos pegar carona, em vão. Quando pensamos em desistir, eis que o bendito passou, com toda a torcida do flamengo dentro. Sem pensar duas vezes, entramos na lata de sardinha e finalmente chegamos no nosso objetivo.

Só não tínhamos nos dado conta que já era quase 15h, E a loja fechava às 19h.

Decidimos dar a cara a tapa e alugamos assim mesmo. Apesar do dono ter falado que se chegássemos após o horário e a loja estivesse fechada, teríamos que pagar mais uma diária.

Resultado? Tivemos que fazer o circuito correndo, ou melhor, pedalando, mas sem muito descanso. Não conseguimos fazer tudo, por motivos de: não temos preparo.

Voltamos desde a metade do caminho, pedalando contra o tempo. Perdemos a saída, pegamos o caminho errado, nos perdemos e chegamos depois do horário.

Pedimos pelo amor de Deus ao dono que quebrasse esse galho.

Para terminar esse dia com chave de ouro, os ônibus continuavam em greve. Tivemos que pegar 3 caronas distintas para conseguir voltar pra casa.

carona perrengue

Nossa terceira tentativa frustrada de pegar carona

11. Elementos Eco Hostel: a porta do quarto emperrou e não conseguimos dormir nele. Dormimos na sala.

Depois de um mês acampando em Bariloche, encontramos um hostal em Pucón que saia por quase o mesmo preço. Por conta disso, a nossa hospedagem que seria de apenas 7 dias, acabou se transformando em um mês.

Óbvio que não ficamos pagando por todo esse tempo.

Um belo dia, a dona do hostal, de tanto ver a gente passando horas e horas sentados na sala e mexendo no computador, veio nos oferecer um trabalho de recepcionista na parte da noite e em troca teríamos as hospedagens. E para ela seria ótimo também, já que tinha que cuidar da filha e dormir cedo, porque despertava bem cedo para levá-la ao colégio.

Perfeito! Era o que precisávamos.

Primeira noite de trabalho, a porta do nosso quarto emperrou e não abria por nada. Mas só fomos descobrir isso quase meia-noite, horário que estávamos indo dormir.

Tentávamos, tentávamos e nada.

Não queríamos ter que incomodar a dona logo no nosso primeiro dia de trabalho. Tivemos então, a brilhante ideia de dormir na sala do hostal; no sofá. Sem lençol, sem cobertor, sem nada. O mais próximo que chegamos disso foi o meu casaco, que a gente usou para cobrir as pernas.

12. O cão fugiu

Ainda sobre a nossa estadia no hostal em Pucón, junto com o nosso trabalho de recepcionista, ficamos encarregados de fechar os portões e prender os cachorros na bodega, para que não ficassem latindo no portão para quem passasse de madrugada,

Um dia após o incidente com a porta do quarto, saímos mais uma vez por volta da meia-noite para dormir. Quando fomos chamar os cachorros para a casinha, nos demos conta que só um deles estava no quintal.

Gritávamos: max, max… mas sem sucesso.

O que nos deixou ainda mais preocupados, era o fato de saber que eles adoravam ir para a rua brincar com os outros cachorros — e brigar também. Por isso, em hipótese alguma, o portão poderia ficar encostado, porque eles fugiam.

Sem saber onde mais procurar, decidimos ir para rua em busca do Max.

Olhávamos embaixo dos carros, nas ruas paralelas e nada. Já sem esperança, voltamos para o nosso quarto na certeza que o esporro viria  no dia seguinte. E como falaríamos com a dona que deixamos o cachorro dela fugir?

Quando amanheceu, descobrimos que, naquela noite, a dona deixou o seu amável cãozinho dormir junto com ela no quarto.

Ufa! Esses foram uma parte dos nossos perrengues.

Agora chegou a sua vez! Compartilhe com a gente qual foi o maior perrengue que você já passou em uma viagem! rs