A difícil decisão de mudar e minha qualidade de vida

De forma muito sábia, um dia eu li que a palavra "sucesso" é como a palavra "Deus". Isso quer dizer, se você perguntar a 100 pessoas o que significa, você obterá 100 respostas diferentes. E, naquele momento, o que estava sendo desenhado para o meu futuro não refletia na minha definição de sucesso.

Todos os dias acordava às 6h para começar meu ritual matinal antes de ir para o trabalho. Nem sempre isso acontecia às 6h em ponto, muitas vezes o cansaço não me deixava. Como uma pessoa organizada que não sou, nunca tinha a roupa já separada. É impressionante como esses 5 min que se perde quando se está correndo contra o tempo para ir trabalhar se transformam em meia hora.

Nos meus dias de sorte, levava 1h30 da minha casa até o banco — morando em São Gonçalo você sabe como é. Começava o trabalho às 9h e se estendia até sabe lá Deus que horas. Na maioria das vezes, não por exigência do chefe, mas simplesmente porque queria mostrar a mim mesma que era capaz de resolver qualquer problema que me fosse designado. Ou mesmo acreditando que se eu dedicasse mais horas do meu dia para isso, mais rápido teria a recompensa.

Em algumas incontáveis vezes, acabava abdicando das aulas na faculdade, ou porque o trabalho me exigia demais e precisava ficar depois da hora, ou porque o trabalho me exigia demais e terminava o dia igual bagaço, doida para chegar em casa.

Pois bem, final do expediente, o relógio já marcando oito e alguma coisa, hora de encarar o fluxo intenso da ponte, mais uma vez. Outra sorte do dia: conseguir um lugar para ir sentada durante a viagem. Em tentativas que pareciam ser em vão, forçava um cochilo entre uma freada e outra no trânsito congestionado, na esperança de recuperar as poucas horas dormidas.

Muitas vezes estava prestes a começar o jornal da Globo quando chegava em casa. Era o tempo de dar boa noite para minha mãe e meu irmão e me preparar para dormir, porque um outro dia me esperava.

De forma bem resumida, contei a minha história dos últimos 4 anos antes de começar a viagem. Mas que claramente poderia ser a sua história ou de qualquer outra pessoa. Já que não foge muito da realidade de mais da metade dos brasileiros.

A difícil missão de abrir mão da estabilidade

O resultado dessa um tanto quanto monótona rotina, foi um desgaste pessoal, ainda que o profissional estivesse bem. Parecia me consumir a realidade de que eu não tinha liberdade de tempo para fazer cursos pontuais que me interessavam. Ou uma viagem com os amigos que eu não podia acompanhar, porque era período de fechamento.

Se quiser, pode definir como responsabilidades da vida adulta. Mas eram esses, entre tantos outros detalhes, que estavam fazendo com que me sentisse mera espectadora da minha vida. Ficava assistindo os casos acontecerem enquanto via a vida passar.

Eu trabalhava a semana inteira para ver o sábado e o domingo chegar. Na verdade, só o sábado, porque quando começava a tocar a vinheta do Fantástico no final do domingo, era como se alguém me beliscasse, mostrando que mais uma semana estava prestes a começar. Trabalhava o ano inteiro ávida por 20 dias de férias. Digo 20 porque os outros 10 tinha que vender para ajudar a inteirar na viagem.

Um período cíclico em minha vida.

E o sentimento que me rondava era estranho. O meu pensamento mais presente era: do que adianta toda essa entrega ao meu trabalho se não me sobra muito tempo para viver a minha vida?

E assim começava a pôr em questão qual era a definição de sucesso para mim. De forma muito sábia, um dia eu li que a palavra “sucesso” é como a palavra “Deus”. Isso quer dizer, se você perguntar a 100 pessoas o que significa, você obterá 100 respostas diferentes.

E, naquele momento, o que estava sendo desenhado para o meu futuro não refletia na minha definição de sucesso.

Mas e agora? Abrir mão de toda a estabilidade e de toda a “segurança financeira” por algo que eu não tinha ideia de como iria se desenvolver? Abrir mão do mundo corporativo e do fluxo natural das coisas para apostar em um futuro um tanto quanto às cegas?

Apesar de cansativa, e até um pouco entediante que minha vida pudesse estar sendo, era esse cenário que me garantia um salário no final do mês e a oportunidade de me dar alguns luxos.

Só que aí percebi que todo o dinheiro e o status, sozinhos e da forma que estavam sendo adquiridos, não conseguiriam pavimentar o meu caminho para a felicidade e realização.

A qualidade de vida atrelada à uma vida simples

Eis que chegou o dia cinco de outubro do ano de 2016 e aos poucos o armário e sapateira foram se tornando uma mochila. Duas gavetas de blusas se resumiram em 7 peças. E, nos pés, apenas uma bota. Essa foi a minha armadura para encarar o mundo.

No mochilão, além dos meus pertences, carregava também um pouco de insegurança, medo e ansiedade. Mas não se pode saltar sobre um abismo com dois pulos. Então, dei o meu maior impulso e me joguei no que possivelmente me faria feliz.

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que ter mais qualidade de vida não precisa estar associado a uma vida mais simples. Na verdade, como um modelo próprio de história, depois que começamos a viajar pela América do Sul, tem sido incansável a nossa busca de meios e ideias para conseguir manter um bom padrão de vida.

No entanto, quando passei a aproveitar um pouco mais do que a vida tinha para oferecer, acabei percebendo que pequenos são os espaços que as coisas mais materiais precisam preencher.

Hoje em dia, minha renda mensal não se compara com a que ganhava quando trabalhava no Banco. Também não tenho os benefícios que tinha antes.

Contudo, é realizador saber que eu posso acordar às 12h em plena quarta feira, tomar café às 13h e que, se preciso for, vou dormir às 5h do dia seguinte terminando os meus trabalhos. Tenho a liberdade e independência que tanto invejei em outras pessoas.

Hoje trabalho a 0 minutos de casa. Ou seja, as, pelo menos, 3h que perdia por dia só com o traslado, agora posso reverter para um curso que quero fazer, um novo assunto que quero aprender. Posso cuidar muito mais de mim e do meu futuro. Ou posso simplesmente ficar de preguiça. Afinal, se não fosse pra ter a oportunidade de passar o dia inteiro maratonando alguma série no Netflix, eu nem teria saído do Banco.

Poder montar meu horário, ser livre para trabalhar no sofá da casa da minha mãe ou em um home office de uma casa alugada pelo Airbnb na Colômbia, apesar de clichê, não tem preço.

De forma alguma quero glamuorizar o meu atual momento. Minha vida tem altos e baixos como qualquer outra. No entanto, o fato de me sentir bem comigo mesma me dá mais força para enfrentar as adversidades que a vida me apresenta.

Uma última pausa no texto para deixar claro que o que serve pra mim, o modelo de vida que idealizo, não precisa e nem deve ser o mesmo para você. Mergulhe fundo no que te faz feliz e realizado e ponto final.

As pessoas tem anseios diferentes e por isso devem seguir caminhos diferentes. A grande ideia nisso tudo é ter a sensação de que você está aproveitando a vida e, embalando por mais um clichê: a vida é muito curta para se perder tempo.