Desvantagens em ser nômade digital | a nossa nada mole vida

Presenciamos constantemente blogs vendendo ilusões sobre como é trabalhar sendo um nômade digital, como se fosse isso sinônimo de uma vida perfeita. Após quatro meses trabalhando enquanto viajamos, adquirimos uma certa propriedade para mostrar que, sim, existem muitas desvantagens em ser nômade digital.

Hoje em dia, parece que os mais diversos artigos veiculados na internet querem vender a ideia de que o fato de trabalhar no formato nômade digital enquanto viaja faz da sua vida perfeita. Fazem questão de enfatizar que você está perdendo tempo em seu trabalho tradicional de, no mínimo, 8h diárias enquanto a sua felicidade está lá fora.

Todo esse conteúdo mais frustra do que motiva. Só serve para reduzir à infelicidade as carreiras tidas como convencionais. Posso dizer que a vida de um nômade digital pode ser muito boa sim, mas está longe de ser esse conto de fadas que divulgam. Tomo a liberdade para dizer que cansa e desanima como qualquer outra.

Talvez a maior vantagem e também o motivo para fazer dela nômade é a flexibilidade. Sem dúvidas, poder trabalhar estando no Uruguai durante um tempo e no mês seguinte no Peru é de fato muito satisfatório. No entanto, a forma como esse estilo de vida é vendido, faz muita das vezes parecer que uma pessoa que tem um emprego tradicional vive em um verdadeiro tédio.

A única coisa boa nesses textos é a possibilidade de mostrar que há outros modelos de trabalho e que a realização profissional pode, sim, vir em outros formatos, ponto final. Até porque, não é todo mundo que quer, ou pode, escolher começar tudo do zero, de novo.

Enfim, estamos prestes a completar quatro meses desde de quando decidimos deixar a nossa carreira montada para trás e apostar em um novo projeto que, por consequência, nos permitiria ser mais um casal nômade digital. Faz pouco tempo, é verdade. Contudo, acredito que seja uma das fases mais complicadas, quando você começa a sentir na pele as dores da sua escolha.

Por que decidimos nos tornar nômades digitais?

Antes de decidir que iríamos pôr a mochila nas costas e tentar a vida enquanto viajávamos, perambulamos por muitas opções. Todas essas opções eram embaladas pelo enredo da insatisfação com o que fazíamos na época.

Concurso público

No primeiro momento, vimos no concurso público a nossa tábua de salvação. Na nossa cabeça não havia saída, teríamos que seguir esse modelo. Esse papo de fazer o que gosta não pode ser aplicado a todos — e, muito infelizmente, não pode mesmo. Ou seja, já que era para viver insatisfeito, que pelo menos fosse ganhando bem e com uma certa estabilidade, certo? Começamos então a estudar para diversas provas: TRT, MP, INPI…

Sustentamos esse projeto por um, dois, três meses, mas não foi para frente. Pode parecer piegas, mas mesmo querendo passar, não sentíamos aquela motivação para estudar. O resultado disso foram dezenas de materiais estocados no armário, mais uma vez. Voltamos para a nossa realidade.

Empreender

Tempos depois, começamos com a ideia de empreender, mas ainda não sabíamos ao certo com o quê. Por vezes nos identificamos com o seu madruga, que tentava de um tudo rs. Criamos uma loja de produtos importados da china. Uma camiseteria com estampas nerds. Organizamos um campeonato universitário.

O último até nos rendeu um dinheiro. Mas afinal, era isso que queríamos? Estávamos dispostos a largar os nossos empregos para encarar esse projeto? Não estávamos seguros disso. Voltamos a estaca zero.

Volta ao mundo

Coincidência do destino ou não, começamos a consumir muito material sobre essa galera que resolve dar uma volta ao mundo. Sério, parece que brotava na nossa timeline do facebook. Estávamos realmente tentados em encarar essa empreitada. O fato de sair por aí viajando funcionava como um comichão para pormos esse desejo em prática.

Estudamos, analisamos, conversamos e chegamos a decisão que não; não era o que precisávamos. E não era por alguns motivos: fazemos parte da grande parcela de brasileiros que simplesmente não tem condições de “largar tudo” e dar uma volta no globo — infelizmente. As dívidas no final do mês não nos deixavam juntar dinheiro. Não tínhamos um apartamento ou um bom carro para vender.

Sabemos que sempre tem a opção de viajar de forma low-cost, mas convenhamos que interpretar o modelo mochileiro descolado com apenas 100 reais no bolso e pegando carona pelas estradas da vida não é para qualquer um.

Além disso, se o propósito era dar a volta ao mundo, o que faríamos quando acabasse? Voltaríamos para os nossos empregos? Para tudo o que sempre reclamávamos? É, melhor não! Segue o jogo.

Nômades digitais

Apesar disso tudo, aquela vontade de conhecer o melhor do mundo continuava intermitente em nossas cabeças. Lemos algumas muitas histórias sobre nômades digitais e percebemos que esse era o estilo de vida que mais se aproximava do que achamos ser o ideal para gente, nesse momento.

Pronto! Vamos cair na estrada e começar a trabalhar viajando, só bastava a gente decidir como. Para o Yu foi um pouco mais tranquilo, pois, apesar de ser funcionário público, é apaixonado por web design e programação. E já trabalhava com isso paralelamente. Melhor dos mundos, já que essas são as atuações modelos quando falamos sobre as melhores profissões para quem quer ser um nômade.

Só que para mim o buraco era um pouco mais embaixo, já que sou contadora e trabalhava em um banco de investimentos. Uma coisa era certa, seria preciso construir uma carreira do zero.

Tínhamos um instagram de viagens que foi criado de forma meio que despretensiosa e que surpreendentemente alcançou um bom público em pouco tempo de vida. Com isso, resolvemos apostar em um blog também. Mas qualquer pessoa, com o mínimo de conhecimento possível, sabe que é praticamente impossível rentabilizar um blog desde o início.

Apesar de ser algo que a gente goste de fazer e que faça com paixão, sabíamos que demoraria um pouco até conseguir fazer dele o nosso trabalho. A solução era acionar um plano B. Resolvi então que buscaria trabalhos freelancers para esse momento. Já que gosto de escrever, porque não me candidatar às vagas de produção de conteúdo? E porque não incluir uma tradução nesse bolo?

E foi assim que decidimos que viajaríamos pelo mundo e trabalharíamos na estrada. Agarramos esse projeto com a cara e a coragem e nos jogamos no mundo sem nenhuma garantia. Lá se vão quatro meses desde esse dia.

Não sei se por acaso do destino ou não, mas a partir desse momento, nossas cabeças ficaram muito mais livres e agora temos culhão para investir em qualquer projeto. E assim está sendo.

Quais as desvantagens em ser nômade digital

Enfim, esse foi o motivo que te trouxe até aqui, certo? Então vamos falar quais são as desvantagens em ser nômade digital e viver viajando. A intenção não é fazer ninguém desistir, muito pelo contrário: dou a maior força para quem quer seguir esse estilo de vida e estou aqui para ajudar com qualquer dúvida. O motivo desse texto é ir em direção contrária às ilusões vendidas por muitos blogs.

A partir disso, você pode montar uma balançar para perceber se esse é um modelo que se adapta ao que você almeja ou não.

Não ter quem amamos por perto

Pode parecer bobo, mas é onde o nosso calo mais aperta. Não só pelo fato da saudade — que aperta sem dó, mas pelo fato de não tê-los por perto quando algo acontece. Tem dias em que a gente acorda precisando daquele colo de mãe, sabe? Ou algo acontece e você só quer se sentir em casa e acolhida por pessoas queridas. Nem sempre é fácil amar por Skype.

E o bar com os amigos? As resenhas até de madruga? As apostas de quem come mais em um rodízio? Todos esses momentos ficam muito mais limitados. Além do que, por mais que tentemos cultivar as amizades, a relação fica mais afastada.

Saudade é um sentimento frequente em nossas vidas.

Uma relação de amor e ódio com a internet

Por ser nômade digital, o seu material de trabalho mais importante, juntamente com o notebook, é a internet. Infelizmente, não é todo lugar que está preparado para oferecer uma internet de qualidade e/ou barata. Não adianta, somos dependentes da internet e não tê-las causa uma limitação em nossas vidas.

O cliente não quer saber que você está viajando e que na sua cidade atual a internet é escassa. Ele quer o trabalho pronto no tempo estipulado; sem desculpas. Frases como “tem internet? A internet é boa? Bosta, não consigo fazer upload da foto. A internet caiu? Não to conseguindo abrir o link” estarão cada vez mais presente. Nunca pensei que pudesse me estressar tanto com um wifi que não funciona.

Nem sempre o seu “espaço de trabalho” é o ideal

Trabalhar sentado na cama? Isso é luxo! Ultimamente temos trabalhado no chão da barraca — haja coluna. Ou então, em um dos banquinhos, sem encosto, espalhados pelo camping. Aí você deve estar pensando: é só não acampar.

Filho, você acha que a gente morre de amores por camping? Uma semana ou outra, é uma experiência agradável, mas e o mês todo? A gente vai no que fica mais barato. Quando dá, alugamos um quarto inteiro no Airbnb ou no hostel world, mas estamos passando por umas cidades bem turísticas e a opção mais barata é o camping.

Ainda assim, mesmo em uma casa, nem sempre teremos uma boa cadeira e mesa para trabalhar. A saída aqui é procurar espaços de trabalho no estilo coworking, mas no momento estamos um pouco sem tempo $$, se é que você me entende.

Você não usa a viagem para se desconectar

Antes de entrar no mundo do nomadismo e cair na estrada, víamos nas viagens a nossa válvula de escape. Era a hora de curtir o momento e deixar todo o trabalho para quando as férias acabassem.

Agora isso não é mais possível. Para cada lugar que vamos, levamos também as nossas tarefas, trabalhos e preocupações. Vou visitar um ponto turístico, mas fico pensando no email que o cliente mandou. Saio para conhecer a cidade, mas checo o celular de 5 em 5 minutos para ver se tem mais alguma notificação.

Tudo bem, os nossos brainstormings acontecem quando estamos fazendo trekking. É sério, durante os 9 dias que fizemos o circuito O em Torres del Paine, poucos foram os momentos que não estávamos falando dos nossos projetos. rs

Acabou o fim de semana

Sim, uma das grandes vantagens de ser nômade digital é quando começa o fantástico e a deprê de que o domingo está acabando não aparece. No entanto, a alegria do fim de tarde de uma sexta-feira também não existe. Aquela sensação de desligar o computador e encontrar os amigos no happy hour, de deixar o trabalho para trás… é, isso dificilmente vai acontecer e eu explico melhor no item abaixo.

Muito além dos 9h às 18h

Se o que te permite ser um nômade digital são trabalhos freelances como no UpWork, 99freelas ou freelancer.com ou qualquer outro trabalho que você ganhe por produção, certamente você vai trabalhar muito mais dos que as 8h diárias em 5 dias na semana. Vamos supor que eu cliente manda uma proposta e você ta precisando do dinheiro, acha mesmo que você vai se importar que é fim de semana?

Posso dizer que trabalhamos bem mais agora do que em nossos antigos empregos — tá, talvez nem tanto, já que início de ano é pesado para os contadores de plantão. Mas sim, o nosso trabalho tem sido bem pesado. Acordamos mexendo no notebook e só desligamos quando vamos dormir.

Talvez isso melhore com o tempo? Acredito que sim, já que temos que trabalhar tanto assim para construir uma certa autoridade no mercado. É possível que mais para frente a gente fique um pouco mais seletivo.

E para piorar — ou melhorar — estamos trabalhando em alguns projetos pessoais que estão nos consumindo bastante. Mas ainda assim, não troco nada disso pelo meu emprego antigo.

A rotina — ou a falta dela

Essas últimas três desvantagens em ser nômade digital meio que estão entrelaçadas. Ao mesmo tempo que soa libertador poder dormir quando der sono, acordar sem despertador e comer só no momento em que a fome aparecer é também assustador. Isso só funciona mesmo nas férias.

Parece que o seu dia fica menos produtivo, que as coisas não encaixam e seu dia fica totalmente desregulado. A falta de planejamento também complica. É preciso ter uma programação bem definida. Por isso muitos especialistas enfatizam a importância de criar uma rotina de trabalho, principalemnte quando se trabalha de casa.

 Saudade do ambiente de trabalho

Sim, dá saudade! Obviamente não é do modelo de trabalho em si, mas do ambiente, das pessoas. De dar 12h e sair para almoçar. De fofocar sobre a vida na hora do lanche. De ter pessoas falando ao seu lado.

Por mais que a gente tenha um ao outro, o nosso ambiente de trabalho, muitas das vezes, é um café. Daí a gente não quer perder tempo — já que gastamos dinheiro para consumir e poder usar a internet, além de ter se deslocado. Ou seja, passamos boa parte do dia focados no trabalho para fazer valer.

Ser um nômade digital é trabalhar de forma solitária.

Existem muitas outras desvantagens, como qualquer outro modelo de trabalho, mas essas são as que mais nos afetam. Tem mais alguma desvantagem? Compartilhe com a gente nos comentários.

Falamos muito mais sobre os problemas do nosso dia-a-dia como nômades digitais em nossas redes sociais: facebook, instagram e youtube. Não deixe de nos seguir!