Torres del Paine — Nosso roteiro Circuito O

Está pensando em fazer o Circuito O mas não tem ideia do que esperar? Relatamos de forma detalhada os nossos nove dias de trekking em Torres del Paine.

Paraíso dos praticantes de trekking e dos amantes da natureza, Torres del Paine, sem nenhum exagero, eleito como a “oitava maravilha” do mundo, tem se tornado um destino cada vez mais visitado. Seja para navegação, caminhada no gelo, excursões full day, trilhas de 5 dias — circuito “W” — ou de até mesmo 9 dias — circuito O.

Quando saímos de Ushuaia, tínhamos como meta conhecer o Parque e sua imensidão. Foram dias pegsquisando todas as informações possíveis, pois não sabíamos qual circuito faríamos. De fato, o “W” é o mais conhecido, mas fazer o circuito O, além de nos fazer conhecer ainda mais o parque, nos traria aquela sensação de somos foda, conquista

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Definindo o roteiro do circuito O

Desde de fevereiro de 2016 a CONAF transformou unidirecional o caminho percorrido pelo circuito O, mais precisamente no trajeto do acampamento Coirón para o Paso. Dessa forma, a dúvida que por muitas vezes permeou a cabeça dos mochileiros sobre qual sentido fazer foi sanada. Sendo possível, apenas, realizar o sentido anti-horário.

Com isso já decidido, o visitante só precisa escolher por onde vai iniciar, já que o parque possui três portarias (Laguna Amarga, Pudeto ou Sede Administrativa). Eu, particularmente, aconselho começar pela Laguna Amarga, caso você faça o trajeto completo. É da Laguna Amarga que sai um transfer até o Hotel Las Torres — ponto de início para a trilha até base das Torres.

Pois bem, resolvemos começar pelo camping central, mas deixamos as Torres para o último dia. Escolhemos esse roteiro, principalmente, por dois motivos: primeiro para deixar a imagem mais icônica do parque para o final, nos motivando a concluir todo o percurso. O segundo motivo é que se o dia não estivesse bom para subir — ninguém merece fazer todo o esforço e a visibilidade estar péssima, né? — poderíamos tentar subir no dia seguinte sem embolar todas as nossas reservas para os próximos dias.

Dessa forma, vou reunir aqui o nosso roteiro para o Circuito Maciz o Paine durante nove dias de trekking, de forma detalhada e objetiva. separando por dia.

Primeiro dia — Portaria Laguna Amarga até acampamento Séron

No melhor estilo Yuri e Juliana de ser, saímos de Puerto Natales em direção ao parque por volta das 12h. Ok, até aí não teria problema, já que o tempo estimado para a trilha do dia era de apenas 4h e a distância entre os dois locais de menos de 3h. No entanto, decidimos que faríamos esse trajeto de carona, para tentar economizar.

Agora eu te pergunto: quem vai para Torres del Paine 11h? Exatamente, quase ninguém. E por isso, demoramos cerca de 1h até conseguir a almejada carona. Obviamente ele não iria para o parque; nos deixou no meio do caminho: Cerro Castillo, uma cidade resumida em uma rotatória.

Felizmente, conseguimos um transfer que nos levou até a Portaria Laguna Amargar por 5 mil pesos chilenos, cada um. Ao chegar na entrada, tínhamos duas opções: andar  7km por um caminho sem muitos atrativos até próximo ao camping Las Torres ou pegar um outro transfer. Escolhemos a segunda opção e dessa forma iniciamos a trilha até o acampamento Séron às 14h20.

Foram 13km divididos em 5h, apesar do mapa prever 4h. Nós não estávamos acostumados a caminhar longas distâncias, principalmente com as mochilas pesadas e já na primeira hora sentimos a necessidade de parar e descansar.

Com 3h de caminhada chegamos ao ponto mais alto dessa trilha, cerca de 400m de altitude. O corpo já estava pedindo arrego e não era difícil pensar que não aguentaríamos realizar todo o trekking. Para piorar, essa primeira trilha não tem muitos atrativos o que acabava dando um pequeno desânimo.

circuito O

Começamos a descida e íamos bem, até chegar na parte onde era preciso atravessar um rio. De forma geral, as trilhas são bem sinalizadas, mas nesse trecho faltou um pouco de informação sobre o melhor caminho. Andamos um pouco pela margem do rio, até que eu achei algo similar a uma ponte improvisada com galho e pedras e resolvi arriscar.

Para a minha infelicidade, a pedra estava em falso e na tentativa de salvar meu pé quando ele começou a afundar, acabei pisando em um lugar pior ainda. Isso tudo somado ao peso da mochila que tira um pouco da estabilidade, acabei caindo e afundando totalmente meu pé. Para piorar, ainda restava quase uma hora até o fim da trilha. Tentei levar até onde deu, mas chegou um momento em que estava ficando insustentável e a meia começou a machucar. A solução? Terminei o caminho de chinelos de dedo.

Como era de se imaginar, chegamos exaustos e esfomeados ao acampamento. O único desejo naquele momento era tomar um banho, comer e dormir. No entanto, o acampamento Séron só tem uma ducha por sexo, o que acarretou em uma pequena fila.

Acampamento Séron:

– Um banheiro e uma ducha por sexo;
– Chuveiro quente, mas com água fraca;
– Espaço coberto para cozinhar;

Atenção:  É possível tomar um transfer, por 3.000 pesos, da Laguna Amarga até próximo ao início da trilha para o Séron. Dessa forma, você evita uma caminha de aproximadamente 7km sem muitos atrativos.

Segundo dia — acampamento Séron até Dickson

Apesar de termos acordado às 8h30, só conseguimos sair às 10h45, pois ainda não estávamos no ritmo de levantar o acampamento. Tendo como exemplo o dia anterior e sabendo que o mapa previa 6h para percorrer os 18km, começamos a trilha já com o psicológico abalado.

O caminho ia bem até chegarmos ao equivalente a 1h caminhada. Nesse momento começa uma subida bem pesada combinada com fortes ventos — sendo o último uma presença constante. Ao chegar no topo da subida, somos presentados por uma linda vista do Lago Paine e sua incrível cor, uma paisagem sensacional, bom para recarregar as energias.

Continuamos seguindo o caminho até completar as 3h estimadas no mapa, onde está localizada a Guardería Cóiron. Resolvemos parar por aqui para reforçar o lanche e descansar um pouco, pois ainda teríamos mais 3h a nossa espera. Nesse ponto também tivemos que fazer o registro da nossa passagem, já que os próximos quilômetros são os mais difíceis e complicados da trilha. Os guardas usam esse registro para controlarem, por medida de segurança, as pessoas que estão indo do Cóiron até o Paso.

As últimas três horas são um pouco melhores. Apesar de bem cansativo, o terreno é em boa parte plano. Com exceção do quilômetro final, que conta com uma subida, mas que vale muito a pena. Lá de cima é possível avistar o acampamento e o lindo Lago Dickson.

Ao todo foram 7h de caminhada — desapontando as 6h que estavam previstas no mapa — para percorrer 18km. Chegamos no acampamento e montamos a barraca. O lugar é realmente lindo e fica quase impossível não tirar fotos.

Acampamento dickson circuito O

Nossa linda vista no acampamento Dickson

 

Acampamento Dickson:

– Um banheiro e ducha por sexo
– A área do chuveiro é minúscula e muitas pessoas decidiam por trocar de roupa do lado de fora
– Tinha água quente, mas demos azar e o gás falhou quando fomos tomar banho
– Não há espaço coberto para cozinhar

Atenção:  não é possível passar pela Guardería Coirón sem ter reserva no acampamento Dickson ou Los Perros.

Terceiro dia — Acampamento Dickson até Los Perros

Acordamos com uma chuvinha fina e chata que caía de forma ininterrupta. Como não tínhamos saída, o jeito foi desarmar a barraca na chuva mesmo. Como o Dickson não tem lugar coberto para cozinhar, a solução era buscar abrigo nas mesas cobertas pelas árvores.

Como eram “poucas” horas de caminhada, decidimos por sair mais tarde e aproveitar para dormir um pouco mais. Começamos a trilha às 12h e a chuva teimou em nos acompanhar por todo o percurso. Por sorte, boa parte do trajeto era cercado por mata fechada o que acabava filtrando um pouco o fluxo de água.

Apesar de ser um trecho mais curto, é composto em boa parte por subida. Saímos de 200m para 600m de altitude. No entanto, foi possível realizar a trilha sem grandes problemas. Mais uma vez, no quilômetro final, caminhando por uma subida que parecia infinita, fomos recebido por um imponente glaciar: Los Perros. Apesar de uma linda vista, o vento nessa região é muito forte, muito mesmo. Isso acaba atrapalhando um pouco a apreciação do local.

O acampamento Los Perros é bem simples. Mesmo sendo um acampamento pago, não possui chuveiro com água quente. Ou seja, por mais que a gente quisesse tomar um banho para relaxar, ficamos impossibilitados. Boa sorte a quem se atreve a tomar banho frio, ou melhor, gelado nesse lugar.

Como fomos acompanhados pela chuva durante grande parte do trajeto, a solução que encontraram foi fazer do pequeno refúgio (área para cozinhar) um secador de roupa. Foi possível ver de um tudo lá, desde meias até sacos de dormir. Teve até gente que se atreveu a dormir no refúgio.

O dia seguinte seria pesado, dormir o quanto antes era uma obrigação.

Roteiro Torres del Paine

Acampamento Los Perros

– Um banheiro e ducha  por sexo
– Não há água quente
– O terreno é bem ruim para fincar as estacas, mas ao mesmo tempo é protegido pelas árvores
– Há espaço coberto para cozinhar

Atenção: é imprescindível que seja feito o registro da sua entrada ao ingressar no acampamento Los Perros. Muitas pessoas tem problemas para realizar a travessia e essa é a forma que eles tem para controlar cada um. Os guardas do Los Perros se comunicam com o do Paso para trocar informações de quem começou a trilha.

Quarto dia – Acampamento Los Perros até Paso

Todos com que conversávamos nos alertava para esse trecho do trekking. Um dos guardas até comentou que houve uma morte recentemente por hipotermia. Obviamente, já estávamos com medo antes mesmo de começar a trilha. O medo era potencializado, pois sabíamos que nossas roupas não eram as recomendadas para a situação. Recorremos para o que podíamos. Antes de dormir, fizemos nossas orações pedindo que o dia amanhecesse um pouco melhor e com menos vento, e dessa forma amenizar nossos medos.

O corpo ainda estava pedindo cama quando levantamos. Não queríamos, mas tínhamos que seguir com o nosso roteiro para Torres del Paine. Às 7h20 já estávamos com tudo pronto para iniciar a caminhada que seria a mais difícil da trilha. Precisaríamos subir até 1200m de altitude para atravessar o Paso Gardner.

Iniciamos a trilha na ideia de ir desde o acampamento Los Perros até o Grey, que era onde tínhamos reserva. Para isso, precisaríamos percorrer 15km distribuídos em, pelo menos, 11h.

A trilha já começa com algo similar a um pântano. É um trecho bem chatinho, com uma lama preta e pegajosa, mas não muito difícil de percorrer. Terreno bem escorregadio, composto por subida boa parte do trajeto. Em uma das poucas descidas, aproveitei para levar o tombo do dia — já que caí em quase todos os dias.

Até que finalmente esse trecho deu lugar aos bosques. Aproveitamos aqui para recuperar as energias, porque o que achávamos ser a pior parte ainda estava por vir. Com o tempo o bosque ia ficando cada vez mais descampado e com pedras. Iniciamos a subida de forma nada otimista. Parecendo não ter fim, a cada vez que chegávamos ao topo de um morro, avistávamos outro para subir.

Com pouco mais de 4 horas de caminhada, finalmente, chegamos ao cume. Como recompensa por todo esforço, fomos brindados com uma bela e inesquecível vista do Glaciar Grey e sua imensidão. Apesar de lindo, o vento e o frio não nos permitiam parar na intenção de tirar fotos.

Com a ideia de que na descida todo santo ajuda, fomos sem acreditar na dificuldade que seria. Com menos de 1h de descida, os joelhos reclamavam insistentemente. As paradas para descanso tornaram-se cada vez mais frequente; estávamos no nosso limite. E o pior era saber que ainda estávamos na metade do caminho.

Com umas 6h30  de caminhada, uma sensação de alívio bateu: chegamos no acampamento Paso. Uma parada estratégica para o almoço e aproveitamos para rever a nossa condição de seguir com o planejamento. Atestamos que não. Precisaríamos exigir o nosso corpo por mais 5h — de acordo com o mapa — até o acampamento Grey.

A solução era pedir, mesmo sem reserva, aos guardas para que nos deixassem montar o acampamento lá. Pela forma que fomos recebido, me arrisco dizer que deve ser uma atitude comum. rs

Montamos nossa barraca e aproveitamos para dormir — ou tentar, já que o vento fazia um barulho estrondoso nas copas das árvores.

Circuito O o que fazer

Acampamento Paso

– Não tem ducha;
– O banheiro não tem vaso, é só um buraco no chão e uma corda para se segurar;
– Tem um pequeno espaço coberto para cozinhar;
– É gratuito.

Atenção: Se a intenção for percorrer o caminho do acampamento Los Perros até o Grey é preciso estar atento ao horário em que os guardas fecham a trilha. Em dezembro de 2016, a trilha fechava às 16h.

Quinto dia — acampamento Paso até Paine Grande

Com as energias renovadas — mas ainda com bastante dores — iniciamos mais um dia de trilha por volta das 10h25. Sempre éramos um dos últimos a desmontar o acampamento. Acordar cedo não é o nosso forte, mas como no verão tem sol até umas 22h, isso não era um problema.

Tínhamos duas opções: tentar reaver a nossa reserva no Grey — já que não chegamos, porque decidimos ficar no Paso — ou ir direto para o Paine Grande. Ir direto ao Paine Grande reduziria um dia de camping, mas exigiria uma caminhada de 18k. Seguimos o caminho sem nenhuma decisão, deixamos para decidir quando chegássemos ao Grey.

O caminho é tranquilo, exceto por alguns pontos: uma travessia em meio a “cachoeira” e uma escada meio abandona — mas muito bem presa — que era necessário subir. Fora isso, caminhamos um bom trecho de um infinito precipício. O caminho era moldado pelo desmoronamento das pedras. É preciso um pouco de atenção.

Mas a grande atração dessa trilha são as suas pontes suspensas. Para quem ter vertigem, o aconselhável é não olhar para baixo. Passar por elas renovou as nossas energias. Pela paisagem, obviamente, mas também por saber que já estávamos chegando no Grey.

Chegamos bem no Grey, com 4 horas de caminhada. Entusiasmados por termos feito menos que o previsto no mapa, decidimos ir direto para o Paine Grande. Aproveitamos só para almoçar e descansar um pouco. Segundo o mapa, seriam “só” 11km percorrido em 3,5h. Acreditávamos que o terreno seria super tranquilo, para ser possível ser feito em tão pouco tempo.

Retornamos à trilha às 15h55, agora bem mais movimentada, já que tínhamos iniciado o trecho do circuito W. O caminho é descampado em boa parte e para o nosso azar choveu durante todo o percurso. Como estávamos com a capa da mochila, não maldamos que ainda assim molharia a mochila e nossos equipamentos, já que era uma chuva constante, mas fina. Só fomos descobrir isso mais tarde, ao montar a barraca e ver os nossos sacos de dormir bem molhados.

Mas voltando para a trilha, ela de fato não exige muito esforço, mas achamos bem cansativa. No quilômetro final já não éramos mais ninguém. Parecia que não tínhamos domínio sobre o nosso corpo. Além de todo o cansaço acumulado, já havíamos caminhado uns 13km. Nosso único desejo era chegar, mas parecia tão distante.

Chegamos! Exauridos, com fome e muitas dores. Aos mesmo tempo estávamos surpresos por cada esforço. De fato, fazer o circuito O é matar um leão por dia.

Montamos a barraca o mais rápido que pudíamos e fomos tomar banho. Contrastando com todos os outros acampamentos, o Paine Grande tem uma estrutura ótima. O chuveiro é excelente, com água forte e quente. Mais difícil do que a trilha, foi ter que sair do chuveiro. Cozinhamos praticamente um pacote inteiro de macarrão e fomos dormir.

Lago Pheoé

Lago Pheoé

Acampamento Paine Grande

– 4 banheiros por sexo;
– Quatro duchas quentes por sexo;
– Um mini-mercado;
– Refeitório com tomadas;
– Área de Camping totalmente descoberta.
– Início da área de cobertura da Internet ONAFI.

Sexto dia — Dia de folga no Paine Grande

A fim de nos recuperar do nosso cansaço mental e corporal, decidimos por ficar mais um dia no acampamento do Paine Grande. O nosso corpo pedia por isso. No momento das reservas, tínhamos separados dois dias no Paine Grande por pura idiotice. Superestimamos o nosso preparo físico e psicológico. A ideia inicial era ir do Paine Grande até o Mirador Britânico e depois voltar. Essa estripulia nos custaria uma caminhada de 25km — sendo 7,5 de pura subida. Se não fosse o bastante, no dia seguinte o plano era seguir do Paine Grande até o Las Torres (Central) 24km. Loucos? Sim!

Vimos que isso era “humanamente” impossível para alguém nas nossas condições. Decidimos por descansar no Paine Grande e no dia seguinte tentar uma vaga no Italiano (gratuito) e, se não fosse possível, tentaríamos pagar por uma vaga no Francês. Seja o que Deus quiser! No entanto, essa decisão acarretaria em um problema: chegaríamos no Las Torres com um dia de atraso. Mas a real é que “cagamos” mole para isso; deixa que a Juliana e o Yuri do futuro decidam.

Passamos o dia todo descansando e vendo filme. Esse descanso foi providencial. Era realmente o que precisávamos para completar com maestria o nosso circuito.

Também foi um dia de despedida, presenciamos algumas pessoas que iniciaram o circuito com a gente indo embora. Não tem jeito, as caminhadas são crués com o nosso corpo e se já não fosse o bastante, tem a mochila pesada, o terreno irregular que nos faz torcer o pé algumas vezes e as decidas que castigam os joelhos. Por isso, muitas pessoas que fazem o circuito O e se machucam no meio do caminho, se sacrificam — na medida do possível — para chegar no acampamento e pegar um catamarã. Isso porque o Paine Grande conta com um porto onde atracam as embarcações que levam até o Pudeto, uma das portarias do parque; é aqui também onde algumas pessoas finalizam o circuito W.

Sétimo dia — Acampamento Paine Grande até Italiano

Parecíamos outras pessoas e o parque também. Amanhecemos com um sol forte, nos revelando uma beleza, que até então não tínhamos percebido, do acampamento Paine Grande. Aproveitamos para tirar bastante fotos.

Estávamos contando com poucas horas de caminhada, e, por isso, iniciamos a trilha por volta das 13h. Eram “apenas” 7,5km e 2h30 previstas no mapa. Particularmente, achei a trilha mais bonita do parque. Você percorre boa parte do trecho admirando os lindíssimos Lagos Pehoé e Sköttsberg.

É impressionante como um dia de sol torna a trilha muito mais leve, parece que te dá uma injeção de ânimo e tudo fica mais bonito. Fizemos as 2h30 prevista, mas só porque paramos muitas vezes para tirar foto. O caminho é bem tranquilo e não tem nada em excesso.

Chegamos no Italiano às 15h30 e conversamos com os guardas, contamos toda a história e como o acampamento estava bem vazio — era semana do natal — eles deixaram a gente ficar. Só que antes de montarmos a barraca, vimos o quadro que eles preenchem com a previsão do tempo do dia e os dois próximos. Com isso, percebemos que não podíamos perder a oportunidade de subir ao Mirador Britânico naquele dia e aproveitar o céu azul que estava fazendo.

Montamos a barraca da forma mais rápida que podíamos — mal sabíamos que nos arrependeríamos depois — pegamos a nossa bolsa de ataque com alguns biscoitos e subimos. Sabíamos que o horário estava avançado, além disso, o guarda nos informou que precisaríamos chegar por volta das 21h/21h30.

Essa trilha é composta totalmente por subida e a falta de aeróbico começa a dar o seu sial. Mas tudo bem, a vista é bem bonita e o dia estava contribuindo. Éramos a disposição em forma de gente, em 1h chegamos no primeiro mirante Mirador Francês. Uma pausa para fotos e continuamos a subida.

o que levamos no circuito O

Mas, infelizmente, nem tudo são flores, o dia que estava lindo começava a se transformar em apenas nuvem. Provavelmente tem alguma explicação geográfica para isso, porque o tempo ficou péssimo conforme entrávamos na cadeia de montanhas do Mirador Britânico. Chegamos ao cume praticamente sem visibilidade — o que foi um pouco brochante. Mas ao mesmo tempo nos serviu de lição, percebemos que não valeria o esforço para subir até a base das Torres nos próximos dias se o tempo não estivesse bom.

Além da falta de visibilidade, a temperatura começou a cair bastante, principalmente por conta do glaciar. Como, mais uma vez, não tínhamos boas roupas, aproveitamos o tempo de descanso para comer um biscoito — já que não tínhamos almoçado — e começamos a descer. Fizemos a trilha toda (ida e volta) em 4h30 e chegamos no acampamento às 21h.

Mantendo o padrão dos acampamentos gratuitos, o Italiano também não tinha ducha. Só nos restava comer e dormir. Lembra quando falei que ficaríamos arrependidos de ter batido o nosso record para montar a barraca? Pois bem, quando finalmente fomos dormir, percebemos que barraca foi montada no terreno em declínio. A sensação que tínhamos era que estávamos dormindo em um tobogã. Por diversas acordamos dormindo na metade pra baixo da barraca.

Atrelado ao tobogã, também foi a noite que passamos mais frio. Talvez por a mata ser bastante fechada, impedindo a penetração dos raios de sol, ou pela proximidade com o glaciar e cachoeira. De fato, não foi das nossas melhores noites. Mas tudo bem, já estávamos chegando ao final, não seria isso que nos tiraria a vontade de concluir o circuito.

Base de Las Torres

Base de Las Torres

Acampamento Italiano

– Tinham 4 banheiros, mas só dois estavam funcionando.
– Há um pequeno espaço coberto para cozinhar. Não tem luz, evite cozinhar muito tarde.
– Não há torneiras no acampamento, é preciso pegar no rio que corre ao lado do acampamento.

Atenção:  Mesmo que não fique acampado no Italiano, é possível deixar as mochilas para fazer a trilha sem maiores pesos. Não tem um depósito propriamente dito, mas as pessoas deixam as mochilas em frente a cabine dos guardas. Convenhamos, quem vai querer roubar uma mochila para levar ainda mais peso?

Oitavo dia — Acampamento italiano até Las Torres (central)

Como fazia muito frio e o acampamento Italiano tem pouquíssima estrutura, decidimos iniciar a trilha sem café da manhã mesmo e fazer uma parada em seu vizinho, o acampamento Francês. Iniciamos a trilha às 11h e às 11h30 já estávamos no Francês. Aproveitamos para conhecer um pouco o lugar e fazer algumas anotações para o blog.

Chegamos às 14h nos Los Cuernos, mas ainda faltavam 11km até o central. Apesar do lindo Lago Nordenskjöld nos acompanhar boa parte do caminho, por vezes dando lugar a campos floridos que faziam a seu olhar ir distante, depois de sete dias de caminhada, as coisas já não atraem tanto.

O relevo nesse trecho é bem ondulado, com muitas subidas e descidas atrelado ao desgaste corporal, foi difícil terminar essa trilha. O local parecia não chegar nunca. Olhávamos para o horizonte, mas não tínhamos novidades. Depois de quase 8h, finalmente chegamos no camping.

Felizmente, fomos recebidos com bons chuveiros de águas quentes, daquelas que chegam a queimar a pele. Sei que não é saudável, mas precisava disso para relaxar. Não sei se por ansiedade — de concluir o circuito — ou por fome, mas comemos um pacote inteiro de macarrão e fomos dormir.

Torres del Paine O

Acampamento Las Torres (central)

– Quatro banheiros e quatro duchas por sexo
– Ducha quente e forte
– Não há espaço coberto para cozinhar
– Tem um quiosque com preços um pouco mais barato que os demais locais.

Nono dia — ida e volta à Base de Las Torres

Chegou o grande dia. Dia de visitar a paisagem mais icônica e mundialmente conhecida do parque. Dia também de concluir o nosso trekking. Deixamos as coisas na barraca e partimos para o ataque — ou tentamos partir para o ataque. Como um balde de água fria, a chuva molhava nossos olhos e nos impedia de enxergar as imponentes torres.

Mesmo desacreditados, por volta das 10h30, insistimos em subir. O relógio ainda não marcava 5 minutos de caminhada quando a chuva apertou e o que já estava difícil de enxergar, por um momento, pareceu não existir. Com medo de se repetir o episódio do Mirador Britânico, resolvemos voltar. E nesse momento o que não faltou foram dúvidas em nossa cabeça.

Achamos por bem ir até a cabine dos guardas para pedir uma opinião e, quem sabe, perguntar se sabiam da previsão do tempo para amanhã. Voltamos com respostas que não gostaríamos de ter escutado. A previsão para o dia seguinte era tão ruim quanto. Desolados, voltamos para a barraca tendendo a ir embora e voltar nos próximos dias — já que ficaríamos até o ano novo em Puerto Natales.

Mas ir embora assim? Deixando esse grande asterisco no nosso circuito? Não sabíamos o que seria mais brochante: mover tantos esforços para subir até a base e nada enxergar ou voltar para casa sem conhecê-las. Não tínhamos o que fazer, a visibilidade beirava a zero, decidimos ir embora.

A fim de cortar gastos, decidimos esperar o horário em que os carros começavam a sair do parque para pedir carona. No entanto, o que era impossível de acreditar aconteceu. Percebemos um pequeno raio de sol sendo estampado na lateral da nossa barraca, custamos a perceber, mas quando abrimos a porta e olhamos para o céu, parecia um novo dia.

Todo aquele cenário esbranquiçado deu lugar a um céu azul de poucas nuvens e, como um milagre, as Torres estavam lá. Prontas para serem vistas. Olhamos para o relógio que já se aproximava das 14h. Ficamos meio assim, porque seriam 4h para ir e mais 4h para voltar. Mas como poderíamos perder a chance que a natureza nos deu?

Decididos a dar o melhor de nós, pegamos a mochila e começamos a subir na nossa máxima potência. Obviamente esse gás acabou na primeira subida. rs Mas não desistimos. Sabíamos o que queríamos e queríamos ver as Torres.

Desde o acampamento Las Torres até o acampamento Chileno é uma subida ferrada, potencializada pelos ventos. Mas acima disso tudo, um visual incrível, que nos recarregava as energias para subir. Dessa forma, o caminho que estava previsto para ser feito em 2h, fizemos em 1h20.

Paramos na lojinha do Chileno para sermos assaltados, digo, para comprar uns biscoitos e tomar um nescau — afinal, precisávamos de energia. Seguimos a trilha, que nessa parte era um pouco mais tranquila, por entre o bosque até chegarmos na entrada do acampamento Torres (gratuito). Nesse momento, uma placa nos dizia que apenas 45 minutos nos separavam das incríveis torres.

Cheios de si por termos feito um trajeto estimado para 3h30, em apenas 2h40, achávamos que tiraríamos de letra. Doce ilusão. Esse quilômetro final castiga, te esgota as energias e parece não acabar. É uma subida bem ingrime — a gente sai de 580 m para 875 m em 1 km de subida. São enormes degraus de pedras e ao olhar para cima, enxergávamos  pessoas que mais pareciam formigas.

Chegamos! Ainda um pouco anestesiados pelo milagre climatológico, só sabíamos agradecer por ter tido coragem, mesmo que tardia, de subir. Ficamos por uma hora apreciando, tirando fotos e, obviamente, comendo.

Com sentimento de realização, voltamos ao acampamento com a sensação de dever cumprido; sem lacuna. Agora sim, poderíamos voltar a Puerto Nateles de cabeça erguida.

Trilha Mirador Britânico

Trilha Mirador Britânico

Décimo dia — voltando para casa

Com menos 20kg nas costas, acordamos leves para ir embora. Desmontamos tudo e ficamos na saída do acampamento na esperança de conseguir carona. Não queríamos nem podíamos pagar pelo transfer, por motivos de não ter dinheiro. Após 1h finalmente conseguimos e fomos em direção a Portaria Laguna Amarga.

Felizmente o ônibus da empresa Bus-Sur já estava de saída e em menos de 3h já estávamos em Puerto Natales. Era nada mais nada menos do que 23 de dezembro. Precisávamos conseguir um local para nos alojar e passar o natal, mas isso é história para outro post.

Espero que tenhamos conseguido mostrar, de forma clara, todos os pontos e altos e baixos do circuito O em Torres del Paine. Peço desculpa por ter me estendido tanto, mas juro que tentei ser bem sucinta.

Se você está planejando o seu trekking em Torres del Paine e não sabe ainda o que levar, veja esse nosso post. Contamos tudo que deu certo, ou não, nos itens que levamos para o Circuito O.

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